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Coronavírus: a testagem é confiável?


Fonte: Google Imagens


Por Tainá Rocha e Matheus Marques


Em 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que uma pandemia mundial estava se iniciando em razão dos alarmantes números de infecções e óbitos decorrentes da COVID-19, uma doença com alta capacidade de contágio provocada pelo vírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). Desde então, muitas medidas foram implantadas e pesquisas realizadas a fim de minimizar o impacto dessa doença e descobrir maneiras mais eficazes para seu combate e prevenção. Entre essas medidas, os exames laboratoriais específicos e inespecíficos, além dos testes sorológicos representam mecanismos essenciais para efetivação desses objetivos, visto que possibilitam identificar a presença do vírus e, desta forma, viabilizam a aplicação de medidas de proteção e tratamento.

Com ampla veiculação acerca do coronavírus nas mídias e redes sociais, alguns desses métodos de testagem se tornaram bem conhecidos pela população. Você, por exemplo, possivelmente conhece alguém que foi submetido a um deles ou até mesmo viu no instagram, twitter ou televisão algo a respeito desses procedimentos. Afinal, a haste flexível de algodão sendo introduzida no nariz ou o furinho no dedo para coletar uma gotinha de sangue para testagem são imagens constantemente transmitidas nesses meios. Além disso, quem nunca ouviu comentários como “meu teste deu IgG então não transmito mais o vírus” e “fiz o teste rápido e deu negativo”? Pois bem, tudo isso está relacionado aos diferentes tipos de testes para Covid-19 e se você não conhece como eles funcionam. Por isso essa matéria vai te ajudar!

Em primeira análise, é fundamental entender dois conceitos essenciais para validação e confiabilidade de qualquer exame: sensibilidade e especificidade. Segundo OROFINO (2011), a sensibilidade de um exame refere-se à capacidade do teste “de identificar os verdadeiros doentes” enquanto a “especificidade é a probabilidade do teste de identificar os verdadeiros não doentes” (OROFINO, 2011 p.19). Assim, quando um teste possui baixa sensibilidade significa que seus resultados tem maior probabilidade de ser o que se denomina “falso negativo”. Já o exame com baixa especificidade indica que seus resultados podem apresentar erro do tipo “falso positivo”. Logo, quanto maior for a sensibilidade ou especificidade dos testes maior será a validade deles, ou seja, a capacidade de medirem o que é proposto.


RT-PCR

Um dos testes mais utilizados atualmente é o diagnóstico laboratorial específico que tem como base a identificação do RNA (ácido ribonucleico) do vírus. É nesse teste que a haste flexível é introduzida no nariz (cavidade nasal e orofaríngea) pela técnica chamada swab para coletar amostras de secreção. Isso é possível, pois na secreção nasal há a presença de um anticorpo denominado IgA responsável por evitar que vírus e bactérias se liguem diretamente na mucosa do nosso nariz e boca. Assim, em caso de contaminação por meio dessa secreção será possível identificar a presença do vírus da Covid-19. Esse teste é indicado nos dias subsequentes aos primeiros sintomas da doença porque será mais efetivo. Esse exame também conhecido como RT-PCR é considerado a referência na identificação de infecção por detectá-la logo nos primeiros dias de infecção. Sua sensibilidade e especificidade tendem a variar conforme origem e fase de coleta da amostra, de 70% a 93% e cerca de 95% respectivamente.


Sorológico

Já o teste sorológico detecta a infecção ao se basear na resposta imune gerada pelo nosso corpo à infecção viral e pode ser executado através de duas técnicas as quais são a ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) e os denominados ensaios imunocromatográficos. Esses testes são úteis na detecção da resposta imune, pois tanto os anticorpos da classe M (IgM) quanto da classe G (IgG) podem ser detectados após um período aproximado de sete dias do início dos sintomas clínicos, podendo se estender por mais de 25 dias. No que se refere a esse tipo de exame, segundo Lima et.al (2020), no Brasil, os testes aprovados apresentam sensibilidade e especificidade superior a 85% e 94% respectivamente.


Como é desencadeada essa resposta imune?

No momento em que o vírus SARS-CoV 2 invade uma célula hospedeira, por meio de uma interação de um proteína denominada proteína S, a enzima (conversora de uma substância chamada angiotensina II) presente em algumas células dos alvéolos pulmonares, ocorre a ativação da resposta imune adaptativa (aqui o nosso corpo combate os microrganismos de forma mais específica). Quando a imunidade adaptativa é ativada células de defesa chamadas linfócitos TCD4+ ativam os linfócitos B (outra célula de defesa) e esses por sua vez produzem anticorpos específicos para combater o vírus. Na fase inicial dessa resposta os anticorpos produzidos são da classe A e M, ou seja, IgA e IgM respectivamente. Já na fase secundária da resposta imune a prevalência é do anticorpo de classe G ou IgG. Assim, por depender da resposta do nosso organismo o teste sorológico é indicado principalmente para indivíduos em quadros não muito recentes.


Teste Rápido- Antígeno

O teste rápido baseia-se na metodologia imunocromatográfica, ou seja, é um tipo de teste sorológico. Nele a amostra de sangue coletada entra em contato com uma substância chamada reagente que muda sua coloração ao interagir com os anticorpos presentes no material coletado. Assim, o teste apresenta resultado positivo para Covid-19 quando no mostrador do aparelho utilizado aparecem duas linhas coloridas e negativo quando há apenas uma linha. Conforme o Ministério da Saúde a especificidade desses testes é de 94% para o anticorpo IgM, enquanto a sensibilidade mínima é de 85% para esse anticorpo sendo que pode haver variação a depender da origem de fábrica.

Nesse sentido, é fundamental ressaltar que a eficácia dos métodos de testagem está relacionada a sua aplicação adequada, ou seja, desde observar as recomendações do fabricante ou o momento ideal da utilização de cada um, obedecer a um rigor processual na coleta amostral até sua análise a fim de que o resultado seja o mais fidedigno possível. Nessa linha de pensamento, “[...] é importante salientar que as investigações laboratoriais são a base dos estudos epidemiológicos, orientam as estratégias governamentais mais eficazes relacionadas com a saúde e fornecem subsídios para as decisões médicas baseadas em evidências.” (XAVIER; et al., 2020, p.7)

Dessa forma apesar dos métodos de testagem representarem um avanço significativo no combate ao coronavírus ao permitirem que a infecção seja identificada e monitorada, bem como a constante atualização tecnológica desses procedimentos garantirem uma testagem cada vez mais assertiva, ainda é preciso atentar-se que “a positividade da RT-PCR e a soroconversão podem variar em diferentes grupos de indivíduos infectados, incluindo a grande população de pacientes assintomáticos, na qual podem haver casos subdiagnosticados e subnotificados.” (XAVIER; et al,, 2020, p.7)

No entanto, segundo o virologista, imunologista e pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz Ricardo Khouri (2021), apesar da possibilidade de erros diagnósticos os testes moleculares possuem alta sensibilidade e especificidade próxima de 100% enquanto os sorológicos apresentam uma variação maior de 90% a 99%. Portanto, Ricardo Khouri afirma que para um diagnóstico adequado é fundamental que o resultado de qualquer um desses testes sejam interpretados juntamente com os dados clínicos do paciente, demais aparatos e exames necessários por um profissional de saúde capacitado.


Referências Bibliográficas

AVELAR, Larissa Maria Soares; et al. Você sabe interpretar os testes da covid-19? Disponível em: https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/107-testes-laboratoriais acesso em: 17 mai. 2021.


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PAVÃO, Ana Luiza; et al. Nota Técnica: Considerações sobre o diagnóstico laboratorial da Covid-19 no Brasil. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/42557/2/Considera%C3%A7%C3%B5esDiagnosticoLaboratorialPandemia.pdf acesso em: 17 mai. 2021.


ROCHA, Marco Antonio. Covid-19: Pesquisador da Fiocruz tira dúvidas sobre testes de Covid-19. Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/covid-19-pesquisador-da-fiocruz-tira-duvidas-sobre-testes-de-covid-19 . Acesso em 05 Mai 2021.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRNADE DO SUL. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS). Qual a aplicabilidade dos testes diagnósticos para COVID-19? Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS; 1 Fev 2021. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/posts_coronavirus/qual-a-aplicabilidade-dos-testes-diagnosticos-para-covid-19/ . acesso em 17 mai. 2021


VILLA PALACIO, María Isabel; LOPEZ HENAO, Elizabeth. Alteraciones hematológicas en COVID-19. Nova, Bogotá , v. 18, n. spe35, p. 75-79, Dec. 2020 . Disponível em: <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-24702020000300075&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 05 de jun 2021.


XAVIER, Analucia R. et al . COVID-19: clinical and laboratory manifestations in novel coronavirus infection. J. Bras. Patol. Med. Lab.,Rio de Janeiro , v. 56, e3232020, 2020 . Disponível em: <http://www.scielo.br/sciAVELAR, Larissa Maria Soares; et al. Você sabe interpretar os testes da covid-19? Disponível em: https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/107-testes-laboratoriais acesso em: 20 mai. 2021.







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